Tratamento do Diabetes Tipo 2: Uma Visão Detalhada dos Inibidores de SGLT2

A comunidade médica tem assistido a uma revolução no manejo do diabetes tipo 2, particularmente com a introdução dos inibidores de cotransportadores de sódio-glicose 2 (SGLT2). Esta nova classe terapêutica não só otimiza o controle glicêmico como também oferece benefícios secundários para subpopulações específicas de pacientes. Este artigo procura elucidar o mecanismo de ação, o valor terapêutico e as nuances clínicas associadas ao emprego destes agentes farmacológicos inovadores.

O Mecanismo Inovador por Trás dos Inibidores de SGLT2

Operando através de um mecanismo inteligente, os inibidores de SGLT2 interferem na reabsorção renal de glicose, levando a um aumento da excreção de glicose na urina e, consequentemente, à redução dos níveis de açúcar no sangue em indivíduos com diabetes tipo 2. Sua eficácia em diminuir tanto a glicemia quanto os níveis de hemoglobina glicada (A1C) é significativa, apesar de estar condicionada à carga de glicose filtrada e à diurese osmótica induzida pela terapia.

Diferentemente de outros antidiabéticos, esses inibidores raramente induzem hipoglicemia quando utilizados isoladamente e ainda contribuem para uma modesta diminuição da pressão arterial e do peso corporal.

Quando Considerar os Inibidores de SGLT2

A escolha por inibidores de SGLT2 deve ser minuciosa, não sendo eles a linha de frente para a maioria dos pacientes com diabetes tipo 2. Primeiramente, são recomendadas intervenções como mudanças na dieta, emagrecimento, atividade física e o uso de metformina. Contudo, para pacientes com comorbidades cardiovasculares ou renais, os inibidores de SGLT2, como a Canagliflozina (Invokana), Dapagliflozina (Forxiga) e Empagliflozina (Jardiance) – todos disponíveis no Brasil – têm demonstrado benefícios substanciais além de uma melhoria modesta no controle glicêmico, apesar dos custos associados e da falta de dados extensos de segurança em relação à glucosúria crônica.

Configurações Terapêuticas e Precauções

A indicação desses medicamentos se consolida em cenários específicos, endossados por ensaios clínicos randomizados e controlados por placebo. Sua utilização é preconizada em pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica comprovada, insuficiência cardíaca, proteção renal e como adjuvante a outros antidiabéticos orais ou insulina quando o controle glicêmico não é atingido.

Importante ressaltar que os inibidores de SGLT2 são contraindicados em casos de diabetes tipo 1 ou comprometimento renal avançado. Deve-se exercer cautela em pacientes com histórico de cetoacidose diabética. Esses fármacos foram associados a efeitos adversos, como infecções geniturinárias e um aumento no risco de amputações, perda óssea e fraturas, exigindo um monitoramento clínico rigoroso e educação detalhada do paciente quanto aos potenciais sinais e sintomas adversos.

Posologia e Ajustes de Dose

Os inibidores de SGLT2 têm menos benefício glicêmico em pacientes com doença renal mais severa no início do tratamento. Para o tratamento específico da hiperglicemia, não se recomenda a iniciação em pacientes com eGFR <30 mL/min/1.73 m^2 (empagliflozina, canagliflozina, dapagliflozina, bexagliflozina) ou <45 mL/min/1.73 m^2 (ertugliflozina).

Após a terapia inicial, a decisão de aumentar a dose deve basear-se na tolerância, efeitos adversos e avaliação glicêmica.

Canagliflozina: Deve ser tomada oralmente antes da primeira refeição do dia. A dose inicial é de 100 mg diários, podendo ser aumentada para 300 mg diários para atingir os objetivos glicêmicos. Em pacientes com insuficiência renal moderada, a dose não deve exceder 100 mg diários. Não é recomendada para pacientes com insuficiência hepática grave.

Dapagliflozina: Pode ser tomada a qualquer hora do dia, com ou sem alimentos. Não é recomendada para pacientes com câncer de bexiga ativo. Para pacientes com função hepática severamente reduzida, recomenda-se uma dose inicial de 5 mg.

Empagliflozina: Tomada oralmente uma vez ao dia, de manhã, com ou sem alimentos. A dose inicial é de 10 mg diários, podendo ser aumentada para 25 mg diários. Em pacientes com eGFR de 30 a 45 mL/min/1.73 m^2, a dose não deve exceder 10 mg. Pode ser usada em pacientes com insuficiência hepática.

Conclusão: Uma Terapia Personalizada é Essencial

Embora os inibidores de SGLT2 marquem um progresso considerável no panorama terapêutico do diabetes tipo 2, é imperativo que o tratamento seja individualizado, respeitando as peculiaridades, as preferências do paciente e os aspectos financeiros envolvidos. O equilíbrio entre benefícios e riscos de várias estratégias terapêuticas continua a ser um campo de pesquisa ativa, refletindo a necessidade de discernimento clínico acurado e uma seleção criteriosa de opções

 

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