A discussão sobre as causas da obesidade ainda acontece entre médicos e outros profissionais da saúde, dada a complexidade da condição. Para entender como identificar quando a obesidade é agravada também por distúrbios psicológicos, há algumas características que podem ser observadas, como:
- a volta do peso perdido;
- o espaço de tempo em que ocorreu o aumento de peso;
- a relação com a comida.
Continue lendo o artigo e entenda mais sobre eles.
Como identificar quando a obesidade é causada por distúrbios psicológicos?
De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), 60% dos pacientes com obesidade sofrem com algum distúrbio psiquiátrico.
Isso demonstra ser notável a relação entre saúde mental e obesidade. A questão é como identificar quando a obesidade é causada por distúrbios psicológicos, e não o contrário.
A relação entre obesidade e distúrbios psicológicos é complexa e multifacetada. Sabemos que tanto a obesidade quanto os distúrbios psicológicos têm uma base biológica, mas também são influenciados por fatores sociais e psicológicos.
Por um lado, a obesidade pode levar a distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade e baixa autoestima. Isso pode ocorrer porque a obesidade pode afetar a imagem corporal e a autoimagem de uma pessoa, bem como sua qualidade de vida e capacidade de participar de atividades sociais e físicas. Mas também por questões biológicas, como resistência à insulina, inflamação crônica e disfunção mitocondrial.
Além disso, a obesidade também pode levar a problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e diabetes, o que pode aumentar a ansiedade e o estresse.
Por outro lado, problemas psicológicos, como estresse e ansiedade, também podem levar à obesidade. Isso ocorre porque muitas pessoas recorrem à comida como uma forma de conforto ou alívio do estresse. O ato de comer pode ativar áreas do cérebro que liberam neurotransmissores associados ao prazer e ao bem-estar, o que pode tornar a comida uma fonte de prazer e válvula de escape para os nossos sentimentos.
Isso, de certa forma, é um hábito aprendido desde a infância. Muitas vezes, os pais recorrem à comida como forma de acalmar ou distrair uma criança que está chorando ou agitada. Também é comum usar a comida como recompensa por um comportamento bom ou como uma forma de celebrar um momento feliz. Esses hábitos podem se estender até a vida adulta, mudando apenas o contexto, tornando a comida uma resposta automática para lidar com emoções e situações estressantes.
A volta do peso perdido
Recuperar o peso perdido também é conhecido como efeito sanfona. É comum, na jornada de emagrecimento, que o peso não estacione imediatamente e aconteçam flutuações. Existem questões hormonais e bioquímicas que justificam isso, principalmente quando o foco da dieta está apenas na restrição de calorias.
No entanto, quando essa recuperação ocorre de maneira muito rápida e grande, deixa de ser uma variação natural do corpo e passa a ser um ponto de atenção, porque sinaliza alguma condição subjacente e que muitas vezes está relacionada a distúrbios psicológicos.
Esse é o caso, por exemplo, da compulsão alimentar, que não é apenas um “deslize”, mas um transtorno que requer cuidados e atenção.
A compulsão alimentar é um transtorno alimentar caracterizado por episódios frequentes de ingestão excessiva de alimentos em um curto período de tempo, acompanhado de uma sensação de perda de controle sobre a ingestão alimentar. Durante esses episódios, as pessoas com compulsão alimentar geralmente consomem alimentos altamente calóricos e não saudáveis, o que pode levar ao ganho de peso e a problemas de saúde relacionados à obesidade. A compulsão alimentar pode estar associada a fatores biológicos, psicológicos e sociais, e pode ser tratada com terapia, medicação e mudanças no estilo de vida, incluindo hábitos alimentares saudáveis e atividade física regular.
O espaço de tempo em que ocorreu o aumento de peso
Um quadro de obesidade que começou em um curto espaço de tempo também é uma pista de como identificar quando a obesidade é causada por distúrbios psicológicos. Outras condições, como uma alteração hormonal, também podem causar uma mudança rápida de peso. Porém, quando os exames não indicam alguma alteração, é hora de começar a olhar para o psicológico.
Alguns transtornos e outros fatores mentais podem causar alterações no apetite, fazendo a pessoa comer mais, como:
- depressão;
- síndrome de burnout;
- ansiedade;
- estresse em geral — uma vez que o cortisol (hormônio liberado em situações de estresse) aumenta a sensação de fome.
O ganho de peso em um curto espaço de tempo muitas vezes está associado a problemas emocionais, como ansiedade, depressão e burnout. Quando uma pessoa passa por períodos de estresse emocional intenso, ela pode recorrer à comida como forma de alívio temporário, o que pode levar a episódios frequentes de ingestão excessiva de alimentos.
Além disso, os distúrbios emocionais podem afetar diretamente o apetite e o metabolismo, levando a alterações hormonais que afetam a regulação do apetite e o armazenamento de gordura. A depressão, por exemplo, pode reduzir a produção de serotonina, um neurotransmissor que ajuda a regular o humor e o apetite. A ansiedade, por outro lado, pode aumentar a produção de cortisol, um hormônio do estresse que pode levar ao aumento da fome e do armazenamento de gordura.
A relação com a comida
Muitas pessoas enfrentam uma relação difícil com a comida, enxergando a dieta como algo sofrido e repleto de proibições, o que pode gerar sensações de culpa e desesperança. Essa dinâmica dificulta o emagrecimento e facilita o ganho de peso. No entanto, adotar uma dieta com uma boa relação entre proteína e energia pode garantir mais autonomia e liberdade na escolha de alimentos saudáveis, sem perder o prazer de comer socialmente. Isso resulta em maior sensação de controle e torna mais fácil escolher opções nutritivas e prazerosas, favorecendo a perda de peso e a manutenção de uma alimentação saudável a longo prazo.
É de extrema importância, caso note que a relação com a comida venha carregada de conotações negativas, buscar um acompanhamento para que haja um diagnóstico preciso e novas estratégias para atingir o resultado desejado. Assim, o caminho a ser seguido se torna mais claro.
Cuidados com a saúde mental
O tratamento para a obesidade, principalmente quando agravada por distúrbios psicológicos, necessita de cuidados específicos.
Em alguns momentos, pode ser necessário o acompanhamento com psicólogos e médicos.
O “Mindful Eating” ou “Alimentação Consciente” é uma abordagem que se concentra em prestar atenção e estar consciente do processo de alimentação, incluindo sensações físicas, emoções e pensamentos relacionados à comida.
Essa abordagem pode ser benéfica para pessoas com ansiedade, depressão e estresse, pois ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade associados à alimentação. Ao estar presente e consciente durante as refeições, as pessoas são capazes de saborear a comida de forma mais plena, desfrutando de cada mordida, e assim, reduzir a tendência de comer em excesso ou de forma emocional.
Além disso, a alimentação consciente ajuda a desenvolver uma maior consciência sobre as necessidades do corpo e as diferenças entre fome física e emocional. Isso pode ajudar a pessoa a identificar melhor quando está realmente com fome e quando está comendo por outras razões, como o estresse ou a tristeza. Com essa consciência, é possível aprender a controlar melhor a alimentação, escolhendo alimentos mais saudáveis e evitando excessos.
Cuidar da sua saúde mental é cuidar do seu corpo. Estimular uma motivação intrínseca e genuína para o emagrecimento evita a autossabotagem e o ciclo do efeito sanfona.
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